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conservam algo em comum. A exterioridade.
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 Muito bem. Já aprendi que a utilidade
de um colírio está no olho. No efeito de
limpeza que produz sobre ele. Na transform-
ação que nele enseja. Mas, então, em que
medida esta exterioridade da utilidade das
coisas nos permite discernir alguma vida
boa?
Utilidade e
consequencialismo
Como já vimos, nossa vida é feita de re-
lações que mantemos com as coisas do
mundo. Nestas relações, importa refletir e
atribuir valor a nossas ações. Sobretudo as
deliberadas. Na perspectiva utilitarista, da
mesma forma que a utilidade do colírio não
está nele  mas no olho a ser tratado  o val-
or moral de uma ação não está nela. No que
fazemos. Ou no que dizemos. Não lhe é
imanente, portanto. O valor de qualquer
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ação encontra-se fora dela. No mundo sobre
o qual age.
Assim se tomarmos como exemplo minha
aula na universidade. Um calouro sempre in-
dagará um veterano:
 E aí, a aula dele é boa? Vale a pena?
Para os utilitaristas, essa resposta importa
muito. Porque o valor da aula não está no
que digo. Na didática. No encadeamento dos
assuntos. E em nada que lhe for imanente.
Mas sim nos alunos. Na medida em que fo-
ram afetados. Transformados. Instruídos.
Preparados.
Da mesma forma, o valor do resto da vida
 que não é aula  também não está nela.
Mas nas transformações que aquele que vive
enseja no mundo. Por isso, para julgar a vida
à moda utilitarista, há que se considerar tudo
que o vivente se dispõe a afetar. Todas as
transformações que pretende determinar no
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mundo. Afinal, segundo esta perspectiva, é
só para mudar o mundo que agimos.
Assim, quando alguém lhe perguntar:
 E aí! Como vai a vida?
Você poderá responder:
 Sei lá. Diga você, que é exterior a mim.
Afetado por mim. Que resulta da minha
presença. Que é efeito da minha existência.
Porque eu mesmo não posso saber.
Quando dizemos que o valor de uma con-
duta não está nela, isto inclui tanto seus as-
pectos objetivos quanto subjetivos. O que há
de objetivo na ação? Aquilo que o agente faz,
propriamente. A materialidade da conduta.
Seu deslocamento efetivo, sua intervenção.
Já vimos que, para os utilitaristas, o valor da
ação não está aí. Nem no movimento do
corpo. Nem nas palavras ditas.
E de subjetivo? É a intenção de quem age.
O que o agente pretendia que acontecesse.
Pois o valor da ação tampouco se encontra
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nesta intenção. Não depende de boas ou más
intenções. Por isso, não é por não querer que
algo aconteça, que me encontro isento de re-
sponsabilidade. Afinal, com ou sem intenção,
minha ação foi determinante para o
acontecimento.
 Bem, até aqui ficou claro onde o valor
não está. Não está nem no que o agente faz,
nem no que pretendia com o que fez. Estará
onde, então?
Venha leitor, que o momento é sublime.
Para os utilitaristas, o valor de qualquer ação
está nas suas consequências. É a partir do
efeito que uma ação enseja no mundo que eu
poderei identificar o seu valor. Ou seja, só
saberemos se o agente agiu bem ou mal
quando considerarmos o que efetivamente
aconteceu a partir desta ação.
Da mesma forma que, para saber se o
colírio foi útil tenho que verificar o efeito que
produziu nos olhos em que foram pingados.
Assim, tanto para uma conduta quanto para
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o colírio, alguns efeitos, ditos úteis, per-
mitirão concluir que a ação foi boa e outros,
ditos inúteis, o contrário.
 Mas o que devo ensejar no mundo para
que possa concluir ter agido bem? Ou como
um canalha? O que significa, afinal, agir
utilmente?
Utilidade e bons efeitos
Poderíamos propor, estimado leitor, que o
efeito bom para qualquer ação é permitir a
quem age obter o que pretendia. Neste caso,
agiria bem aquele que determinasse no
mundo um efeito coincidente com o que pre-
tendia quando deliberou por aquela ação.
Agiria bem aquele que se desse bem. Que
conseguisse o que queria. Que alcançasse as
próprias metas. Que se julgasse vitorioso.
Mas, não é essa a concepção utilitarista.
Porque aqui, o bom efeito não é o sucesso de
quem age. E sim, a alegria do maior número
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de afetados pela ação. Princípio da utilidade
como fundamento da moral. Proposto pelo
jurista inglês Jeremy Bentham. Segundo o
qual, na deliberação entre várias condutas ou
políticas sociais, devemos optar pelas que
ensejarem melhores consequências para to-
dos os envolvidos.
Por princípio de utilidade entende-se
aquele princípio que aprova ou desaprova
qualquer ação, segundo a tendência a
aumentar ou a diminuir a felicidade da
pessoa cujo interesse está em jogo, ou, a
mesma coisa em outros termos, segundo
a tendência que promove a referida feli- [ Pobierz caÅ‚ość w formacie PDF ]

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