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bem os desenhos de Chagall, volto a contemplar o rosto de
Jonas. Não sei se este rosto traz o testemunho das proezas
do náufrago. Mas ele me fala, ele me olha. Para mim, é
uma das maiores figuras deste livro. Mas tantos outros ros-
tos me atraem! Vou continuamente de Jonas a Daniel, de
Daniel a Jonas. Daniel, a cabeça sobre o travesseiro, emerge
de um sonho. Também Jonas não sai de um grande sonho?
Também nós não sonhamos que somos tragados? Não pode
o desenho de um grande artista despertar em nós as potên-
1 BÍBLIA DE CHAGALL 19
cias oníricas que criaram as mais antigas lendas? Entramos
então num além do pitoresco. Começamos por sorrir quando
vemos a cabeça de Jonas na garganta do peixe, e depoi?
somos tomados por devaneios que não riem mais. De re-
pente tudo se torna grave, tudo se torna verdadeiro. A noite
que nos toma em seu próprio sono é um oceano de águas
dormentes. Então, mesmo quando a manha é um pouco
clara em nossa alma reencontrada, sabemos perfeitamente
que, como Jonas, acabamos de ser salvos das águas.
XI
Desta forma, folheando livremente, com grande liber-
dade de devaneio, o livro de Chagall, detive-me num pri-
meiro momento nas pranchas que despertavam em mim
leituras esquecidas. Todos nós temos um museu íntimo onde
ficam guardados os grandes seres da história, e um dos
grandes encantos do álbum de Chagall é que este álbum
torna-se logo um álbum de recordações.
Mas o livro de Chagall possui outro mérito. Força-nos
a reabrir a Bíblia, abri-la em páginas cuja riqueza ignorá-
vamos. Quero dizer agora, com toda humildade, como, com
Chagall, fui à descoberta de meus profetas perdidos.
As figuras surgem então para mim inteiramente novas,
sobre o próprio fundo de minha ignorância. Vejo-as antes
de ouvi-las e corro para o Livro para saber o que disseram.
Aqui está Neemias, o Profeta que ora a Deus dia e
noite para obter de um rei a autorização para reedificar
Jerusalém. As chamas que queimam a Cidade ainda estão
vivas. Neemias chora e reza, a pálpebra inchada e o lábio
pesado. Chagall desenha o perfil da desolação.
Eis agora Joel. Aqui três rostos diferentes são neces-
sários para mostrar-nos o Profeta chamando ao arrependi-
mento e o Profeta prometendo o perdão. Por culpa dos
homens o veneno está no grão das colheitas. Ouçam os as
exortações do Profeta e o universo inteiro estará curado de
suas feridas. 0 céu encheu-se de pássaros e o pássaro de
Chagall traz em seu bico as flores da paz. Este pássaro, na
20 O DIREITO DE SONHAR
segunda prancha, é o anunciador do anjo que aparece no
céu do terceiro desenho.
Agora Amos, o Pastor Profeta, o Profeta que age :
"Porei fogo à casa de Hazael e este fogo devorará o palácio
de Ben-Hadad" (Livro de Amos, I, 4).
O palácio arde. Chagall desenha Amos sobre um fundo
de incêndio. Busco um canto de paz neste mundo em cha-
mas. Um curral permanece vivo no desastre dos palácios.
Nele descubro o homem e a mulher tranqüilamente ador-
mecidos. Também os carneiros aí repousam em paz. O Pas-
tor-Profeta sabe que os carneiros preservam os homens dos
infortúnios da guerra.
Que curiosa impressão recolho ao integrar um ínfimo
detalhe numa cena grandiosa! Sinto-me como se estivesse
descendo às profundezas de uma psicologia de criador. En-
quanto tudo ardia, Chagall quis que algo sobrevivesse, que
dois seres ternos dormissem tranqüilamente num canto
escuro do quadro. As chamas do incêndio destruidor pos-
suem uma claridade de sol. Mas. na sombra, a felicidade
humana é, por si só, uma pequena luz.
O preto chagalliano é habitado.
XII
O livro de Chagall encerra-se com uma ilustração das
visões de Zacarias. Essas visões anunciam, para Jerusalém
e para Sião, o fim dos tempos de provações. O candelabro
de sete braços, luz do Templo, ilumina todo o universo.
Nesta luz universal, o anjo do céu fala ao Profeta, guia o
Profeta. O grande cavalo ruivo de que fala o Livro sagrado
atravessa um céu de sonho. Abrem-se caminhos que ascen-
dem ao firmamento. Também para o homem existem cami-
nhos que conduzem ao céu.
Compreendemos porque, há tanto tempo, encontramos
nos desenhos de Marc Chagall carneiros e asnos, esses bons
companheiros do homem, que trepam sobre as montanhas
das nuvens, bem acima das montanhas da terra. O universo
todo  animais, homens e coisas  tem um destino de
elevação. O pintor convida-nos a essa ascensão feliz. Senti-
-1 BÍBLIA DE CHAGALL 21 [ Pobierz caÅ‚ość w formacie PDF ]

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